Muita espuma e pouco resultado – Por Antônio Gois

Em 2019, logo no início da gestão Bolsonaro, uma das primeiras medidas anunciadas foi a “Lava Jato da Educação”. Numa postagem em seu Twitter em 15 de fevereiro, o próprio presidente afirmou: “Muito além de investir, devemos garantir que investimentos sejam bem aplicados e gerem resultados. Partindo dessa determinação, o Ministro Professor Ricardo Vélez apurou vários indícios de corrupção no âmbito do MEC em gestões passadas. Daremos início à Lava Jato da Educação”.

Na prática, a operação não existiu, e nunca mais se ouviu falar dela. Em compensação, não faltam hoje escândalos de corrupção no ministério, que levaram até a prisão temporária, na semana passada, do ex-ministro Milton Ribeiro, aquele que afirmou, com todas as letras, que, a pedido de Bolsonaro, tinha como prioridade “primeiro atender os municípios que mais precisam e, em segundo, a todos os que são amigos do pastor Gilmar”.

O combate à corrupção no MEC, porém, é apenas mais uma das promessas não realizadas pelos ministros que se revezaram no comando da pasta. Também no primeiro ano, por exemplo, uma grande aposta do governo foi o “Future-se”, um programa para incentivar universidades federais a captarem recursos na iniciativa privada. O projeto recebeu fortes críticas, mas também apoios. Para virar realidade, porém, precisava de capacidade de articulação do governo no legislativo, o que nunca aconteceu.

No início de 2020, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) propôs um ambicioso projeto de ampliação do sistema de avaliação educacional. Não era unânime entre os especialistas, mas a proposta, apresentada pelo então presidente do órgão, Alexandre Lopes, recebeu alguma simpatia entre secretários estaduais de educação. O projeto, no entanto, morreu por fogo amigo. Foi completamente esquecido – e duramente criticado – pelo (então) novo ministro Milton Ribeiro e pelo sucessor de Lopes no Inep, Danilo Dupas.

Até em políticas com razoável consenso em seus objetivos, o governo tem entregado pouco. A ampliação de matrículas na educação profissionalizante, por exemplo, é uma das metas do Plano Nacional de Educação, aprovado pelo Congresso Nacional em 2014, e constava do programa de governo do presidente eleito. Entre 2018 e 2021, no entanto, o número de matrículas nessa modalidade no ensino médio ficou estagnado ao redor de 1,9 milhão (caiu de 1.868.917 para 1.851.541 no período), de acordo com dados recentes do monitoramento do PNE, feito pelo Inep.

Os quatro ministros bolsonaristas – ou cinco, se contarmos um que foi anunciado, mas nunca empossado devido a fraudes no currículo – ocuparam por diversas vezes os holofotes com ideias estapafúrdias (como obrigar estudantes a repetirem um slogan de campanha do presidente), acusações infundadas (caso das “plantações extensivas de maconha” em universidades federais) e frases preconceituosas (contra gays e alunos com deficiência). Produziram muita espuma, mas pouco resultado.

Fonte: Jornal O Globo