UFJF investiga ação das plaquetas em resposta imunológica a infecções virais

O projeto de pesquisa “Mecanismos de tromboinflamação em infecções virais graves” foi um dos dez aprovados na 5ª chamada pública do Instituto Serrapilheira (IS), de fomento à ciência. A elaboração da proposta foi capitaneada pelo professor Eugenio Damaceno Hottz, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A chamada de apoio à ciência do IS é voltada para o fomento de ideias inovadoras. “É um projeto que prevê equipar laboratórios que desenvolvem pesquisas na fronteira do conhecimento”, esclarece Hottz.

A proposta aprovada vai investigar a participação das plaquetas na resposta imunológica do corpo a patologias virais, com olhar especial sobre os vírus causadores da Covid-19 (SARS-CoV-2) e da dengue (DENV). As plaquetas são fabricadas na medula óssea e circulam na corrente sanguínea. Essas estruturas ajudam o sangue a coagular, processo chamado de hemostasia – quando os vasos sanguíneos lesionados param de sangrar.

Em casos graves das doenças investigadas (Covid-19 e dengue) o organismo gera respostas imunológicas e vasculares exacerbadas, porém diferentes. Enquanto casos de dengue podem evoluir para um quadro de sangramento, pacientes com Covid-19 podem ter trombose, que é a obstrução de vasos sanguíneos causada por coágulos de sangue. Os coágulos podem ser causados pelo excesso de ativação das plaquetas.

“Vamos investigar como a plaqueta participa na regulação dessas respostas, tanto aquela que elimina patógeno, quanto aquela que induz tolerância para não deixar a inflamação crescer demais. Queremos saber como diferentes perfis de resposta da coagulação e, principalmente, das plaquetas, que são as principais células efetoras da coagulação, participam da regulação da resposta imunológica”, afirma Eugenio Hottz.

A categorização das plaquetas não é um consenso na comunidade científica. Nem todos os pesquisadores a definem como uma célula, por não terem elementos como o núcleo em sua composição. De acordo com Hottz, esses componentes do sangue vêm passando por um processo de mudança de status, podendo ser considerados como células do sistema imune. “E aí surge o meu campo de estudo e do Laboratório de Imunotrombose, que eu fundei recentemente na UFJF – essa interface da coagulação com a imunologia e de como as plaquetas participam desses processos imunológicos e inflamatórios.”

Os trabalhos também se concentram em como os linfócitos atuam em infecções virais. Essas células, assim como as plaquetas, fazem parte do sangue e têm a função de produzir anticorpos. Os linfócitos têm a função citotóxica (destruidora para outras células) de eliminar o reservatório viral. “Ele identifica uma célula que está infectada com o vírus e mata essa célula, para que não fique replicando o vírus”, conta o professor. Em contrapartida, essa resposta gera dano para os tecidos, já que as células estão sendo eliminadas.

“A nossa resposta imune tem uma função regulatória também, de estabilizar essa resposta, para não crescer demais e gerar mais dano tecidual do que conseguimos suportar. Por exemplo, muitas vezes na dengue, essa população da célula citotóxica está expandida e muito ativa. Na Covid-19, essa população frequentemente está reduzida e suprimida, o que é um problema porque o patógeno não é eliminado. Precisamos entender como essa expansão ou supressão são reguladas nas diferentes doenças”, avalia o pesquisador.

Outra característica diferencial da proposta é se debruçar de forma conjunta sobre o papel de plaquetas e linfócitos na reação imunológica. Apesar de os fenômenos acontecerem no corpo humano de forma simultânea, normalmente são estudados separadamente. Os linfócitos são apresentados como células integrantes do sistema imune, já as plaquetas, como um sistema de coagulação sanguínea. “Quando pegamos uma infecção, essas células não estão isoladas, elas trabalham juntas na resposta contra o patógeno. Quando olhamos para elas juntas, começamos a compreender melhor como esse processo de resposta à infecção acontece. É possível melhorar o manejo clínico, as oportunidades terapêuticas e o acompanhamento das infecções virais, esse é o foco do trabalho”, afirma Hottz.

Projeto reúne pesquisadores do Brasil e dos EUA

A chamada pública de apoio à ciência realizada pelo IS é voltada a projetos liderados por cientistas que estão começando a carreira, tendo no máximo oito anos de conclusão do doutorado. Um valor de R$ 700 mil foi destinado ao projeto, valor que pode chegar a até R$ 1 milhão. A seleção teve início em novembro de 2021 e o resultado final saiu em junho de 2022. Os pesquisadores terão um prazo de 3 anos, a partir de agosto de 2022, para entregar as conclusões da pesquisa.

A pesquisa contará com a colaboração de membros da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade de São Paulo (USP), Instituto Nacional do Câncer (INCA), de docentes e estudantes da UFJF – a partir da orientação de teses de mestrado e doutorado e projetos de iniciação científica. Além de um grupo de pesquisadores especializado em plaquetas da Universidade de Utah, sediada em Salt Lake City, nos Estados Unidos. “Um elemento importante do projeto, é a formação de recursos humanos para a ciência e a tecnologia. Formar jovens mestres e doutores habilitados a trabalhar com plaquetas e regulação de processos inflamatórios nessa encruzilhada entre coagulação, inflamação e imunidade. Como é uma área muito inovadora, formar jovens cientistas habilitados a trabalhar nesse campo, é uma grande contribuição do projeto e, com certeza, o Instituto Serrapilheira levou isso em conta na hora de avaliar”, ressalta.

Pesquisa está alinhada aos ODS da ONU

A Coordenação de Divulgação Científica da Diretoria de Imagem Institucional, em parceria com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Propp), está promovendo uma estratégia de fortalecimento das ações de pesquisa da Universidade, mostrando que estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Os ODS são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.

A pesquisa citada nesta matéria está alinhada com o ODS 3 (Saúde e Bem-Estar), além dos ODS 4 (Educação de qualidade), ODS 5 (Igualdade de gênero) e ODS 10 (Redução das desigualdades), já que o Instituto Serrapilheira oferece um bônus de diversidade para grupos de pesquisa com pluralidade. Confira a lista completa no site da ONU.