UNIFAL-MG pesquisa como cartografia foi utilizada na construção ideológica de projetos políticos durante colonização portuguesa


Como técnica voltada para a criação, produção e análise de mapas gráficos, a cartografia é uma importante ferramenta para reproduzir as características do espaço físico. Nas últimas décadas, estudos mostram o quanto as representações cartográficas contribuem para compreender os contextos da História. Uma das pesquisas nessa área foi desenvolvida na UNIFAL-MG por Altino Sérgio Dias de Oliveira. Orientado pelo professor Alisson Eugênio, ele desenvolveu o estudo “A Cartografia como representação e legitimação da conquista na América Portuguesa no século XVI”.

Prof. Alisson Eugênio durante o “Congresso Internacional Fronteira hispano-portuguesa: pessoas, povos e palavras”, realizado na Universidade de Alcalá de Henares, no mês de junho, oportunidade em que apresentou desdobramento da pesquisa. (Foto: Arquivo Pessoal)

A pesquisa é resultado da dissertação defendida pelo acadêmico junto ao Programa de Pós-Graduação em História Ibérica (PPGHI) em 2018 e propôs revelar outra face da cartografia. O trabalho ganhou repercussão recentemente na Espanha, durante o “Congresso Internacional Fronteira hispano-portuguesa: pessoas, povos e palavras”, realizado na Universidade de Alcalá de Henares, no mês de junho. Na ocasião, o professor Alisson Eugênio apresentou um desdobramento do estudo ao abordar a linguagem dos mapas e sua utilização como instrumento diplomático nos conflitos de fronteira entre os impérios coloniais ibéricos.

Conforme Altino Oliveira, no decorrer da História a cartografia sempre foi indispensável para o processo de acumulação de conhecimento, fazendo dos mapas uma importante fonte documental que pode ser analisada a partir da percepção e olhar dos seus autores. Segundo ele, de forma gradual, os mapas foram fornecendo respostas que ultrapassam os dados básicos relacionadas à representação e localização espacial.

“Além de contribuir para o entendimento do espaço atual e do passado, a cartografia também nos fornece subsídios para refletir as relações sociais, econômicas e políticas de diferentes períodos históricos, permitindo associar o ontem ao hoje, reconhecendo a espacialidade como uma construção dos homens através do tempo”, detalha.

O historiador pontua que essa multiplicidade de saberes possibilitada pela cartografia facilita o processo de construção do saber histórico, o que o motivou a compreender o seu papel na representação e legitimação da conquista na América Portuguesa no século XVI. “Essa investigação foi capaz de demonstrar como a cartografia foi utilizada na construção ideológica dos projetos políticos durante a colonização portuguesa, possibilitando, assim, uma desconstrução daquilo que se era tomado como verdade em relação à prática cartográfica, cuja subjetividade era negada”, sintetiza.

Para o professor Alisson Eugênio, o diferencial da pesquisa está exatamente no fato de estudar a cartografia como objeto de história da arte e mostrar outras possibilidades de investigação envolvendo o material cartográfico, uma vez que esse material pode revelar outras conexões além da função para qual foi produzido. “Sua produção está ligada à necessidade de os impérios legitimarem suas conquistas territoriais, além de servir como inventário geográfico e roteiro para viagens. Mas, como foram feitos manualmente, a iconografia cartográfica também pode ser interpretada como um conjunto de traços que expressam a cultura estética do tempo e lugar em que foi produzida”, argumenta.

Para Altino Oliveira, autor da pesquisa, a multiplicidade de saberes possibilitada pela cartografia facilita o processo de construção do saber histórico, o que o motivou a compreender o seu papel na representação e legitimação da conquista na América Portuguesa no século XVI. (Foto: Arquivo Pessoal)

Altino Oliveira reconhece os mapas como recursos facilitadores para o processo de ensino-aprendizagem condicionados à problematização histórica efetiva às práticas interdisciplinares. Para ele, o material desperta reflexões, estimula a investigação e quebra paradigmas, porém, ainda precisa ser mais explorado como fonte histórica. “Apesar de todos os benefícios gerados pela utilização da cartografia pela História, há ainda muito a se fazer para que essa parceria seja consolidada”, afirma. “As discussões em torno da utilização da cartografia pela Historiografia devem ser ampliadas, já que a maioria dos estudos referentes à cartografia como uma ciência auxiliar a outras disciplinas, ainda privilegia a Geografia”, reflete.

A temática apresentada durante o evento na Espanha despertou o interesse de outros pesquisadores e discussões em torno da utilização da cartografia. “Dado o caráter inovador da pesquisa, houve uma série de perguntas que acabou promovendo um debate em torno da seguinte questão: até que ponto a cartografia, em particular a do período do Expansionismo Marítimo e Comercial Europeu, pode ser considerada uma obra de arte”, revela o professor Alisson Eugênio.

No trabalho que motivou a apresentação podem ser encontrados diversos mapas do período do Expansionismo Marítimo e Comercial Europeu, em particular os produzidos por Portugal e Espanha, os quais foram organizados por ordem cronológica, para identificar qual estilo artístico eles correspondiam. Em seguida, esses mapas foram submetidos ao método de descrição iconográfica e análise iconológica proposto por Erwin Panofsky. “Isso nos permitiu comparar os ícones dos mapas com os ícones das pinturas em busca de um padrão iconográfico”, acrescenta o orientador.

A pesquisa pode ser encontrada no repositório da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFAL-MG, neste link.