UFOP pesquisa locais com riscos no mundo de novas emergências de coronavírus

O estudo é um fragmento da tese de doutorado do professor titular do Instituto de Ciências Exatas e Biológicas (Iceb) e do Núcleo de Pesquisas em Biologia (Nupeb), Sérvio Pontes Ribeiro, do Laboratório de Ecologia do Adoecimento e Florestas (Leaf). De acordo com a pesquisa, o surgimento de vírus da família coronavírus está relacionado a ambientes urbanos, desenvolvidos e poluídos e é uma consequência de padrões insustentáveis de desenvolvimento de uma sociedade intensamente consumista.

A tese está sendo desenvolvida no doutorado em Parasitologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e é composta por outras pesquisas produzidas com auxílio de colegas da UFOP e da UFMG. O artigo, intitulado “Long-term unsustainable patterns of development rather than recent deforestation caused the emergence of Orthocoronavirinae species” estuda, em escala global, a influência dos seguintes pontos para o surgimento de novos SARS-CoV:

1 – tamanho da população humana;
2 – densidade da populacional humana;
3 – Índice de Desenvolvimento Humano (IDH);
4 – emissões de CO2;
5 – precipitação total;
6 – precipitação do mês mais seco;
7 – área de remanescentes florestais;
8 – desmatamento na ocorrência e transmissão de vírus.

Por meio de uma árvore filogenética (representação gráfica, em forma de árvore, da evolução das espécies), a pesquisa traçou um perfil ambiental do local onde os vírus apareciam. Foram encontrados, significativamente, mais ocorrências em locais com maior IDH, porque esse índice é uma média, então, se os locais têm uma população mais rica mas também tem muita desigualdade, as pessoas pobres sofrem com o custo ambiental da manutenção de uma pequena população de pessoas muito ricas.

Outro ponto ressaltado na pesquisa é que as regiões com maior chance de encontrar novos vírus e ter novas epidemias são locais originalmente ricos em biodiversidade, mas que no presente são cidades com grande concentração de pessoas, alta emissão de CO2 e poluição. Esse cenário é composto, ainda, por um elemento pouco estudado em razão de seu caráter criminoso: o tráfico de animais. De acordo com a pesquisa, é muito mais fácil encontrar coronavírus de diferentes espécies a partir do tráfico de animais para cidades grandes e desenvolvidas, onde esse comércio é gigantesco e escondido, e não da natureza, o local onde o animal é retirado.

O estudo, além de ser um alerta sobre os riscos ambientais à saúde humana, é um convite para a sociedade repensar sobre o consumo e, principalmente, pensar em investir, com urgência, no desenvolvimento sustentável da sua ocupação no planeta. O trabalho conclui que a covid-19 matou milhares de pessoas no mundo e isso também é culpa do homem.

Acesse o trabalho publicado na Environmental Microbiol.