UFU – Estudo aponta para impactos da covid-19 no diagnóstico e tratamento de câncer de pulmão

O câncer de pulmão é o mais prevalente em pessoas do sexo masculino [ao nascer] e o segundo tipo mais comum, depois do câncer de pele. Os cânceres de traqueia, brônquio e pulmão possuem a terceira maior incidência no pessoas do sexo masculino. O desenvolvimento de câncer do sistema respiratório está relacionado principalmente ao tabagismo. Nos últimos anos, em função da sobrecarga dos sistemas de saúde pelos casos de covid-19, observou-se alterações no atendimento, nas consultas, no rastreio, no diagnóstico e nos tratamentos associados aos cânceres do sistema respiratório.

Considerando esse cenário, nosso estudo teve como objetivo compreender as mudanças estimuladas pela pandemia da covid-19 no Brasil no perfil dos tratamentos dos casos de câncer do sistema respiratório e discutir as possíveis influências, principalmente, na evolução clínica dos pacientes acometidos por essas doenças oncológicas. Considerando esse cenário, os resultados desta pesquisa foram publicados como artigo original na revista Journal of Health & Biological Sciences, em 30/11/2022, intitulado “Perfil Epidemiológico dos casos de neoplasias pulmonares durante a pandemia da COVID-19 no Brasil”.

A escolha dessa temática deu-se devido à importância de rastrear, diagnosticar e tratar o câncer precocemente, para que seja possível prolongar a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes oncológicos, destacando que a pandemia pode ter influenciado a ocorrência de atrasos no diagnóstico e no tratamento, por consequência influenciando negativamente na evolução dos sintomas das doenças oncológicas.

Para realizarmos essa análise, coletamos dados dos casos de câncer maligno da traqueia, dos brônquios e dos pulmões, que foram diagnosticados em 2017, 2018 e 2019 (período pré-pandemia) e 2020 (período pandêmico) por meio do Painel de Monitoramento do Tratamento Oncológico (PAINEL-Oncologia) do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Após a coleta, calculamos a incidência dos casos ocorridos nas regiões brasileiras (Nordeste, Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste) que foram tratados através de cirurgias, radioterapia e quimioterapia e comparamos o número de casos ocorridos antes e depois da pandemia.

Em nosso estudo, detectamos reduções de 68,22%, 19,58% e 57,24% no número de casos de pacientes do pessoas do sexo masculino tratados, respectivamente, com cirurgias, quimioterapia e radioterapia na Região Nordeste. Essas reduções podem estar relacionadas às substituições de procedimentos cirúrgicos por radioterapias, às faltas às consultas pelos pacientes, à remarcação e ao adiamento de cirurgias em função do atendimento de pacientes acometidos pelas infecções com o coronavírus. É importante dizer que o adiamento de uma cirurgia por mais de oito semanas pode ocasionar transformações como aumento do tamanho, o surgimento de metástases e a invasão de novas células pelo tumor. Por consequência, os atrasos de diagnóstico e tratamento podem aumentar a chance de complicações, piorar a sobrevida e aumentar os óbitos.

Em relação aos casos do pessoas do sexo feminino, detectamos aumento no número de cirurgias e reduções no número de radioterapia em todas as regiões brasileiras. No Centro-Oeste e no Sudeste foram observados, respectivamente, 64,03% de aumento de cirurgias e 59,73% de redução das radioterapias. Os aumentos podem estar relacionados ao encaminhamento de pacientes para outros centros hospitalares e à substituição das cirurgias pelas radioterapias estereotaxias, um tratamento de curta duração com doses elevadas de radioterapia indicada para alguns casos.

Os dados secundários oferecem fatores limitantes para o desenvolvimento deste estudo, porque nem todos os casos que ocorrem na realidade brasileira são registrados no PAINEL-Oncologia e outros são incluídos por notificação tardia.

Neste estudo foi possível evidenciar as influências da pandemia da covid-19 na incidência dos casos de câncer do sistema respiratórios diagnosticados e tratados, além de evidenciar os riscos e os perigos do atraso terapêutico na sobrevida dos pacientes. Desse modo, sugere-se a construção de procedimentos padronizados, em especial períodos pandêmicos, evitando o adiamento desnecessário de intervenções que possam melhorar a qualidade de vida de pacientes oncológicos.