UFRJ – estudo aponta as áreas prioritárias para a conservação de ambientes costeiros

Com a maior parte da população concentrada na costa do país, o Brasil precisa tomar providências urgentes para aumentar a resiliência das cidades diante do aumento do nível do mar. Um estudo realizado por pesquisadores da UFRJ aponta as áreas prioritárias para a conservação, além de mostrar que a perda dos ambientes naturais costeiros levará a um aumento de até 2,5 vezes do risco de destruição do litoral em decorrência das mudanças climáticas, como apontado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC).

De acordo com os pesquisadores, a solução está na preservação de ambientes como manguezais, restingas, florestas costeiras e recifes de corais. “Medidas de preservação reduzem significativamente o risco de destruição litorânea por inundação e erosão costeira. São 8,5 mil quilômetros de costa, onde vive grande parte de nossa população e há grande atividade econômica”, destacou Mariana Vale, professora do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da UFRJ e orientadora do estudo.

Segundo a professora, foi utilizada a metodologia de Avaliação Integrada de Serviços Ecossistêmicos (Invest), desenvolvida na Universidade de Stanford. Quatro cenários de perda de ambientes naturais na costa brasileira foram avaliados. No primeiro, analisou-se a extensão de ambientes naturais no ano de 2000. No segundo, traçou-se a extensão de ambientes naturais nesse mesmo ano. No terceiro cenário, avaliou-se a extensão de ambientes naturais caso eles ficassem restritos apenas às áreas protegidas. Por fim, avaliou-se como ficaria o litoral com a perda total dos ambientes naturais.

Os resultados apontados pelo mapeamento por satélites revelam que o Brasil perdeu uma proporção considerável de ambientes naturais costeiros nos últimos 20 anos. Apenas de mangue foram 230 milhões de quilômetros quadrados destruídos. Para piorar, apenas 10% dos remanescentes de ambientes naturais costeiros estão protegidos dentro de unidades de conservação.

Pouco mais da metade da costa brasileira (52% ) está sob médio a alto risco associado ao aumento do nível do mar, porém esta área deve aumentar para 81% caso os ambientes naturais sejam perdidos. “Se não tivéssemos perdido tantos ambientes naturais, o nosso litoral estaria hoje consideravelmente mais protegido contra o aumento do nível do mar. O nosso olhar para o passado nos alerta sobre o que pode vir a acontecer no futuro se continuarmos com o descaso com a natureza”, alerta Stella Manes, pesquisadora do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS), que liderou o estudo o qual fez parte de sua tese de doutorado, concluída no Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRJ.

Como uma porção muito pequena da costa brasileira está protegida, os ambientes naturais dentro de unidades de conservação não são suficientes por si sós para garantir a proteção da população que vive no litoral brasileiro. “Revelamos a necessidade de proteção e conservação desses ambientes naturais, especialmente por meio de instrumentos legais, como a expansão de áreas protegidas no litoral”, complementou Mariana Vale.

O estudo, que acaba de ser publicado na revista Ocean and Coastal Management, indica áreas prioritárias no litoral brasileiro para elevar a resiliência do país em relação ao aumento do nível do mar. São áreas que estão atualmente sob baixo risco, mas que, com a perda de seus ambientes naturais, passariam a estar sob risco intermediário a alto. Uma das regiões com esta prioridade é justamente o Sudeste do país, onde há grande concentração populacional no litoral e são esperadas grandes mudanças no clima nos próximos anos. “É fundamental considerar o papel da natureza para o bem-estar das pessoas, em especial na região costeira. A natureza pode contribuir para a construção de um modelo de desenvolvimento que agregue benefícios sociais, ambientais e econômicos diante das mudanças climáticas”, concluiu Aliny P. F. Pires, professora do Departamento de Ecologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e uma das autoras do estudo.

Por Sidney Rodrigues Coutinho