UFRJ está desenvolvendo PCR para identificar um dos vírus mais letais do mundo

O Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da UFRJ está desenvolvendo testes RT-PCR para diagnóstico do vírus de Marburg, um dos mais letais do mundo, com mortalidade acima dos 88%. Um surto na Guiné Equatorial foi confirmado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 13/2. Nove pessoas morreram e 16 casos estão sendo investigados. No país vizinho, Camarões, duas crianças estão com suspeita da doença.

O vírus foi identificado em 1967 na cidade de Marburg, que dá nome à enfermidade, e é da família do ebola, que teve sua epidemia mais recente em 2016 na África. À época, a taxa de mortalidade do ebola foi de 90% e 11 mil pessoas morreram. Em 2004, o Marburg matou 90% das 252 pessoas infectadas em Angola. O avanço do vírus é mais lento que o do ebola pela menor adaptação aos centros urbanos. A transmissão ocorre, principalmente, em áreas rurais ou de floresta, por meio do contato com as secreções de morcegos frugívoros e de humanos para humanos depois de contaminados.

Segundo a OMS, o período de incubação do vírus é de dois a 21 dias e, por isso, é possível que ele se espalhe. Apesar disso, os sintomas sempre aparecem, o que facilita a identificação e o controle da doença. A infecção por Marburg pode causar febre, dor de cabeça, dores musculares, vômito com sangue e diarreia. Os sintomas são muito parecidos com os de doenças hemorrágicas como dengue e zika, o que dificulta o seu diagnóstico. Nesse contexto, Rodrigo Brindeiro, pesquisador do Laboratório de Virologia Molecular, afirma que, com os esforços da UFRJ, será possível identificar possíveis casos de Marburg no Brasil:

“Nós estamos produzindo os primers [responsáveis por criar uma cópia do material genético do vírus] para fazer o teste PCR em tempo real, como o que a gente fez para a covid-19. Com isso, conseguiremos ter, em tempo recorde, o diagnóstico de qualquer caso de Marburg ou ebola que a gente receba no Brasil.”

Vigilância no Brasil

Rodrigo Brindeiro defende que é preciso monitorar quem chega ao Brasil de países da região epidêmica de Marburg, orientá-las a fazer quarentena e testá-las para evitar que a população brasileira seja contaminada, porque “é muito difícil distinguir um vírus do outro num país que já tem epidemias eventuais de doenças hemorrágicas”.

Para a doença de Marburg não há vacina, mas é possível tratar os seus sintomas.

UFRJ já combateu surto de Marburg

Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, participou do controle de outra epidemia de Marburg que atingiu Angola, em 2005. Em reconhecimento, o pesquisador recebeu um prêmio dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.