Da luta contra o etarismo ao ingresso na universidade – Por Valter Joviniano Santana

Recentemente tivemos conhecimento, através dos meios de comunicação, do caso ocorrido numa instituição de ensino superior na qual jovens alunas de graduação hostilizaram uma colega de turma, de aproximadamente 40 anos, considerada “velha” para estudar.

A atitude lamentável das moças revela um recorrente preconceito com relação à idade, manifestado justamente a partir de falsas premissas de que pessoas mais maduras não podem exercer determinadas atividades.

No caso dos idosos, tal prática é ainda mais corriqueira através daquilo que passou a ser chamado de“idadismo”, ou “etarismo”, termo cunhado em 1969 pelo gerontólogo Robert Butler, do Instituto Nacional de Envelhecimento nos Estados Unidos.

Mesmo se tratando de uma prática existente há séculos, o etarismo, o preconceito contra idosos, originado da absurda ideia de que eles não podem realizar atividades como trabalhar, estudar, que são pessoas absolutamente frágeis e com saúde sempre debilitada, ainda é um conceito novo. Como o termo ainda não existe em todos os idiomas, há ainda mais dificuldade na conscientização sobre esse fenômeno social multifacetado.

O debate sobre o etarismo se faz pertinente, pois ele não se limita apenas ao Brasil. A prática de utilizar a idade na categorização e divisão entre as pessoas, gerando desvantagens, injustiças, perdas e um desgaste desnecessário entre as gerações é um fenômeno mundial. Segundo o relatório produzido pela Organização Mundial da Saúde – OMS – em 2022, chamado “Relatório mundial sobre o Idadismo”, uma em cada duas pessoas já sofreu ações discriminatórias oriundas do fator idade.

Apesar disso, é inegável constatarmos a tendência mundial ao envelhecimento. Em julho de 2022, a Organização das Nações Unidas – ONU – publicou a “Revisão de 2022 das Perspectivas da População Mundial”, considerando diversos dados econômicos, sociais e projeções populacionais, de 1950 até 2022, a partir de 237 países.

Nesse relatório, é esperado que a população mundial cresça dos atuais 8,02 bilhões para aproximadamente 9,7 bilhões em 2050 e 10,4 bilhões em 2100. Como se pode perceber, o número de habitantes aumentará devido aos menores índices de mortalidade, havendo uma maior expectativa de vida e, consequentemente, maior número de idosos. A expectativa de vida aumentará de 72,8 anos em 2019 para 77,2 em 2050.

Dessa forma, é necessário criarmos uma consciência social do nosso quadro atual e do que está por vir. Nossos filhos e netos viverão mais. E muitos de nós, se tivermos sorte, ajudaremos no aumento do número de idosos no cenário mundial.

Por isso, são fundamentais mudanças comportamentais e o combate ao etarismo. O Brasil é classificado, pelo já citado relatório da OMS, como um dos países que possui um índice de prevalência moderada de atitudes etaristas, perdendo apenas para determinadas nações como Turquia, Iêmen, Argélia, Egito, Índia e Filipinas.

Logo, é de suma necessidade combater o etarismo, contribuindo para melhorar a saúde, reduzir custos, permitir a prosperidade e o aumento das oportunidades das vidas dos idosos. Nesse sentido, a Universidade Federal de Sergipe se orgulha de ser uma das precursoras entre as instituições federais que vem possibilitando e ampliando as perspectivas de uma educação pública e democrática também para pessoas idosas.

Exemplo disso é a realização de um exame específico para o ingresso de idosos no ensino superior. Dessa forma, estamos colaborando para que esse grupo possa obter sua formação superior, inclusive, ajudando na realização de sonho da juventude de muitos.

Mas, além daqueles casos em que se almeja um diploma de graduação, é sempre bom lembrar que, há anos, o nosso Núcleo de Pesquisas e Ações da Terceira Idade – Nupati – vem promovendo diversas iniciativas para integrar o idoso a atividades acadêmicas, promovendo educação, inclusão e saúde.

Com isso, proporcionamos diversos benefícios a idosos em Sergipe, contribuindo para o ciclo social, mantendo corpo e mente ativos, ampliando suas habilidades e competências e reduzindo as chances da presença de diversas doenças, inclusive a depressão.

Mas não só os idosos ganham com isso. A presença de pessoas com 60 anos ou mais em nossos campi traz oportunidades riquíssimas de diálogo, de trocas de experiências. E isso certamente ajuda e ajudará aos nossos jovens estudantes.

Não há mais espaço para o preconceito e a UFS está comprometida e de braços dados com toda a comunidade acadêmica, na defesa de uma educação pública, democrática e de qualidade para todas e todos, independentemente da idade.

Valter Joviniano de Santana Filho é fisioterapeuta e reitor da UFS.

Artigo originalmente publico em JL Política