UFSCar desenvolve equipamento para estudar efeitos de agentes tóxicos em abelhas

Abelhas briguentas ou, no mínimo, não muito sociáveis. Foi esta a dificuldade que levou cientistas do Laboratório de Biologia Estrutural e Funcional (LABEF) do Campus Sorocaba da UFSCar a desenvolver um equipamento para estudar os efeitos de agentes tóxicos sobre abelhas eussociais primitivas e solitárias, que representam 85% das espécies de abelhas existentes no mundo.

Abelhas eussociais primitivas vivem em colônias menores, se comparadas às sociais, e as solitárias que, como o nome indica, não vivem em colmeias, com outras abelhas, mas constroem seus próprios ninhos. “Muito se fala sobre a importância das abelhas sociais, de colônia, mas as abelhas eussociais primitivas e as solitárias desempenham um papel fundamental no ecossistema, pois são polinizadoras de plantas nativas brasileiras, além de ajudarem no produção de frutos maiores e mais saudáveis, fornecendo alimentos a outros animais”, explica Guilherme Boeing, que realiza mestrado sobre o tema no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia e Monitoramento Ambiental (PPGBMA-So) da UFSCar, sob orientação de Fábio Abdalla, docente no Departamento de Biologia (DBio-So) do Campus Sorocaba.

Boeing destaca, assim, que o estudo e a conservação dessas abelhas são essenciais para a biodiversidade, e situa, neste contexto, a importância da invenção resultante da sua investigação. “Em nossas pesquisas, realizamos testes ecotoxicológicos, que consistem em avaliar os efeitos de agentes tóxicos nestas abelhas, além de análises de comportamentos. Porém, não existia um recipiente padrão adequado para estudos destes tipos de abelhas”, conta.

A partir desta demanda, os cientistas criaram o objeto com foco no bem-estar das abelhas e, ao mesmo tempo, na possibilidade de maiores padronização e controle de dados nas pesquisas. A invenção resultou em solicitação de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), com o apoio da Agência de Inovação (AIn) da Universidade, e tem, como diferencial, justamente o fato de ser utilizada especificamente para estudos de abelhas eussociais primitivas e solitárias, uma vez que, para abelhas sociais, já existem objetos adequados.

A caixa é feita de material bastante comum, com aberturas cobertas por acetato em cor. É reutilizável, e seu alimentador pode ser introduzido de maneira segura e prática, sem a necessidade de abrir e fechar a caixa a todo instante. Como essas abelhas costumam ser territorialistas, é preciso inserir um indivíduo por caixa – seguindo, inclusive, o padrão internacional recomendado para testes.

“As características das abelhas eussociais e solitárias são muito diferentes das sociais. O acetato em cor, por exemplo, deixa o ambiente escuro e causa menos estresse – por serem encontrados em ambientes subterrâneos, esses indivíduos preferem regiões mais escuras. E, com o alimentador na lateral, é possível retirá-lo, limpá-lo e inseri-lo novamente, sem invadir o espaço”, detalha Boeing.

Todas essas peculiaridades possibilitam estudos mais detalhados e menos invasivos, diminuindo, também, a probabilidade de erros em dados e de problemas metodológicos de pesquisa.

“Testamos o invento em minha pesquisa de iniciação científica e em dissertações de mestrado do LABEF e não detectamos óbitos na caixa, um diferencial perante outros objetos utilizados anteriormente, onde comumente havia mortes por estresse ambiental. Além disso, nossos ensaios conseguiram ser mais efetivos, com dados consistentes. Com o objeto dosador, conseguimos medir, por exemplo, a quantidade exata de alimento e de água consumidos por dia. Antes, não havia esse controle. Assim, foi possível estabelecer padrões mais claros de pesquisa, enriquecendo-a”, registra o pesquisador da UFSCar.

Por meio de ensaios toxicológicos, que expõem o indivíduo a algum tipo de substância química natural ou artificial, também foi possível analisar os efeitos em seu organismo de forma mais detalhada. “Avaliamos desgaste de asa e mudanças de comportamentos (se a abelha está muito parada, agitada etc.), além de realizarmos análises histológicas de tecidos, que trazem informações importantes sobre as células que os compõem e o seu nível de degradação. Com base em todas essas informações, dá para saber se, de fato, o agente faz mal para o indivíduo, e em quais proporções”, compartilha.

Após testes em escalas laboratoriais, os pesquisadores chegaram em um modelo de caixa leve, de fácil transporte e baixo custo (entre R$ 25 e R$ 30 a unidade). Agora, a ideia é que a invenção chegue a outros cientistas interessados em melhorar suas avaliações de pesquisas com estes tipos de abelhas. Também pode ser útil para empresas que queiram fazer testes precisos de seus próprios agrotóxicos.

Pessoas e empresas interessadas em licenciar a caixa podem entrar em contato com a AIn, pelo e-mail inovacao@ufscar.br ou pelo telefone (16) 3351-9040.