Unirio – Estudo aponta o uso do sorgo como possível solução para crescente demanda alimentar

Como será possível alimentar 11 bilhões de pessoas no final deste século? É com base nesse questionamento que a aluna Carolina Thomaz Dos Santos Dalmeida, estudante de doutorado no Programa de Pós-graduação em Alimentos e Nutrição (PPGAN/UNIRIO), aponta o uso de cereais não convencionais, como o sorgo, como uma possível solução para suprir a grande demanda alimentar.

Carolina destaca que, atualmente, o sorgo é o quinto cereal mais cultivado no planeta, atrás apenas do trigo, arroz, milho, soja e cevada. O consumo humano vem aumentando em vários países (muito utilizado, principalmente na fabricação de pães e biscoitos, por não possuir glúten), embora ainda seja destinado principalmente para alimentação de animais.

“O sorgo é um cereal considerado sustentável e bioativo, devido às suas vantagens agronômicas (mais adaptável ao calor e seca, exigindo menos consumo de água durante o cultivo) e altos teores de compostos, gerando impacto positivo na saúde humana, a partir de seus compostos fenólicos (potentes antioxidantes, que contribuem para prevenir doenças crônicas)”, destaca a pesquisadora.

Porém, Carolina explica que esse cereal apresenta baixa digestibilidade proteica (quantidade de proteína absorvida por um organismo em relação à quantidade consumida), o que limita o seu uso para alimentação humana.

Objetivos da tese

A partir da análise da limitação do sorgo – baixa digestibilidade de proteína -,  a tese de Carolina visa fornecer informações sobre a seleção do material de sorgo, por meio da análise de dois componentes do grão (proteínas e compostos fenólicos), além do desenho experimental do processamento tecnológico desse cereal para suas aplicações alimentícias.

 “Primeiramente, serão estudadas a síntese de compostos fenólicos e a complexação de proteínas (kafirinas), durante o desenvolvimento do grão de sorgo,  para elucidar a maior parte das biotransformações que ocorrem desde o surgimento do grão até a sua maturação. Posteriormente, a interação entre esses dois componentes também será avaliada. Por fim, serão aplicados três tipos de processamento (germinação, decorticação e cocção), para avaliar o impacto na bioatividade e digestibilidade do sorgo”, esclareceu a pesquisadora.

A pesquisa de Carolina, orientada pela professora Mariana Ferreira (PPGAN-UNIRIO), envolve a colaboração entre dois países (Brasil e França) e três instituições (UNIRIO, Institut national de recherche pour l’agriculture, l’alimentation et l’environnement – INRAE) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Como resultado, serão produzidos cinco artigos originais que, a longo prazo, contribuirão para a segurança alimentar global.

Pesquisa conquista 1° lugar em competição

A pesquisa Estudo temporal da síntese de compostos fenólicos e digestibilidade de proteínas em grãos de sorgo: processamento, genótipo e impacto da estação de crescimento, desenvolvida por Carolina Dalmeida, conquistou o 1º lugar na competição Three Minute Thesis (ou ‘3MT), durante a Global Sorghum Conference, realizada entre os dias 3 e 7 de junho, em Montpellier, França.

A competição Three Minute Thesis (ou ‘3MT) é uma competição realizada em diversas Universidades e Congressos em todo o mundo. Nessa competição, doutorandos são desafiados a apresentarem sua tese em apenas 180 segundos, de uma forma envolvente e compreensível, tanto para um público científico quanto para um público não especializado.

Os doutorandos são avaliados pelo público e por quatro jurados, que escolhem o vencedor pela capacidade de comunicação e síntese do estudante, bem como pelo impacto social e científico da tese. No evento Global Sorghum Conference, estavam inscritos doutorandos de diversos países, como Estados Unidos, França, Itália, Austrália, Mali, entre outros. A aluna do PPGAN foi a única representante do Brasil na competição.

Para a ida até a França, a aluna recebeu bolsas de viagem para jovens pesquisadores do Réseau Français de Métabolomique et Fluxomique (RFMF) e Alpha Visa Congrès, e também contou com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Por Liliana Glanzmann Vallejo 

Texto originalmente publicado em Unirio