Econocracia contra a ciência e a tecnologia

Nestes últimos três anos, o Orçamento do Ministério de Ciência e Tecnologia foi reduzido em mais de 70%. Só neste ano de 2017 o corte foi de 42%. Como não houve cortes comparáveis em nenhum outro ministério, podemos concluir que deve existir algo de errado com a ciência e tecnologia.

E mais, esta deficiência ocorreria no Brasil apenas, pois nada semelhante está acontecendo em todo o resto do mundo desenvolvido e em desenvolvimento.

Para eliminar essa última hipótese, façamos uma comparação quantitativa entre as instituições chamadas Laboratórios Nacionais, brasileiras e americanas – uma invenção dos Estados Unidos para enfrentar a competição industrial mundial do pós-guerra e que se tornou a espinha dorsal do esforço em pesquisas e desenvolvimento econômico daquele país.

São hoje 17 Laboratórios Nacionais do Departamento de Energia dos EUA, com um total de 57,6 mil empregados em tempo integral, e com um orçamento operacional de cerca de US$ 14 bilhões.

Em contraste, o Brasil possui quatro Laboratórios Nacionais semelhantes aos americanos (CNPEM), com um total de 600 funcionários e um orçamento de R$ 90 milhões.

Um pouco de aritmética mostrará que os custos operacionais dos LNs por funcionários são nos EUA cinco vezes maiores que no Brasil. Resta ver se as respectivas produtividades mantêm a mesma relação.

Enquanto a produção anual americana dos seus LNs é de aproximadamente 11 mil artigos em revistas indexadas, a dos brasileiros é de aproximadamente 210.

Um breve cálculo mostrará que a produtividade brasileira em relação aos custos operacionais é cerca de dez vezes maior que a dos LNs americanos.table(articleGraphic).

Também em relação a outros quesitos, tais como número de usuários externos, instituições outras beneficiárias, instalações abertas, pós-doutores, doutores e mestrandos orientados etc., os LNs nacionais se mostraram pelo menos dez vezes mais produtivos que aqueles dos LNs americanos.

Pois bem, não há razão alguma para que se espere que outras instituições de pesquisa, tanto as da administração direta quanto as da indireta, como as Organizações Sociais, sejam muito diferentes dos LNs do CNPEM.

Não pode ser, portanto, devido a suspeitas de incompetência que os econocratas de Brasília estejam conscientemente comprometendo os esforços da pesquisa nacional e o futuro do Brasil.

Ou será que simplesmente desconhecem a relação histórica inequívoca entre investimentos em ciência e tecnologia e desenvolvimento econômico das nações?

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, físico, é professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do Conselho Editorial da Folha